Uma gravação à qual a TV Globo teve acesso é uma das pistas que apontam traficantes como autores do ataque a quatro médicos – três deles morreram – na orla da Barra da Tijuca, no Rio.
Segundo essa linha de investigação, um dos três ortopedistas mortos, Perseu Ribeiro Almeida, foi confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. O criminoso integra uma milícia há meses em guerra com traficantes pelo controle de regiões da Zona Oeste.
Na gravação telefônica, interceptada pela força-tarefa da Polícia Civil que investiga a guerra na região, um homem diz: “Acho que é Posto 2, v…”., seguido de uma resposta que não é possível compreender.
Segundo os investigadores, a voz seria do traficante Juan Breno Malta, o BMW, braço-direito de Philip Motta, o Lesk.
Lesk era miliciano da Gardênia Azul e migrou para o Comando Vermelho durante tomada da região pelo tráfico de drogas. BMW teria recebido a informação de que Taillon estava no Quiosque do Naná e, na gravação, estava tentando indicar ao comparsa em que altura da Avenida Lúcio Costa fica o bar.
O Quiosque do Naná, na verdade, fica entre os postos 3 e 4, em frente ao Hotel Windsor, onde os médicos estavam hospedados para um congresso internacional de ortopedia. Os investigadores descobriram que os criminosos foram até o confundiram o miliciano com o Perseu.
A comunicação interceptada foi feita pouco antes do crime, o que junto com outros indícios levou a polícia a suspeitar de que o alvo era Taillon.
Carro foi para a Cidade de Deus
Outro indício que remete à autoria dos traficantes do CV é que o veículo usado na execução, um Fiat Pulse branco, foi rastreado. Após o crime, o carro foi conduzido até a Cidade de Deus, comunidade usada como base da quadrilha na guerra contra a milícia.
Taillon chegou a ser preso em uma operação, no fim de 2020. Ele é filho de Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos principais chefes de uma milícia que atua na Zona Oeste e que vive guerra com a quadrilha de Lesk.
Filho de miliciano, conhecido como Taillon (à esquerda), seria o alvo e teria sido confundido com o médico Perseu (à direita) — Foto: Reprodução
Médicos mortos no Rio: o que se sabe sobre o caso
Mapa mostra onde médicos foram assassinados no Rio — Foto: Editoria de Arte g1
Ortopedistas baleados no Rio: só Daniel sobreviveu e está internado — Foto: Reprodução/GloboNews
Médicos executados no Rio de Janeiro foram atingidos com pelo menos cinco tiros cada; maioria no peito
Os médicos executados no Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira, foram baleados, cada um, com cerca de cinco tiros, a maioria no peito. Eles estavam no Quiosque Naná 2, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, quando homens desceram de um carro branco na Av. Lúcio Costa, próxima à orla da praia, e efetuaram os disparos. A ação durou 25 segundos, nenhum pertence foi roubado. A Polícia Civil acredita que o crime pode ser engano, já que uma das vítimas, o ortopedista Perseu, tem aparência semelhante ao do miliciano Taillon, que mora naquela vizinhança.
A única vítima que levou tiro acima do pescoço foi Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos. Ele era diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nos vídeos das câmeras de segurança do quiosque, é possível ver que Marcos é o único que morre sentado em uma das cadeiras do local.
O que já se sabe
Um funcionário do quiosque afirmou que os médicos haviam pago a conta e aparentavam estar de saída do local. As câmeras de vigilância marcavam 0h59 desta quinta-feira quando um carro estacionou sobre a faixa de pedestres: com a luz de freio acionada, três homens armados desembarcaram, um por cada porta, e miraram no grupo de ortopedistas: Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos; Perseu Ribeiro de Almeida, de 33; Diego Ralf Bomfim, de 35, e Daniel Sonnewend, de 32 anos.
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Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, passou por cirurgia nas pernas e está em estado estável, no Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra. Além dele, os outros ortopedistas estavam no Hotel Windsor, que fica localizado em frente ao Quiosque Naná 2, onde o crime aconteceu, para assistir a um congresso da especialidade médica que acontece de quatro em quatro anos.
Os médicos chegaram na última quarta-feira num voo de Congonhas para o Santos Dumont. Segundo a TV Globo, os homens teriam ido ao quiosque assistir ao jogo do Fluminense. Dois deles apareciam com camisas de time. Os criminosos dispararam 33 tiros de pistolas 9mm.
Parentesco com Sâmia Bomfim chamou atenção
Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, é irmão da deputada federal pelo PSOL Sâmia Bomfim e cunhado do também deputado Glauber Braga, do mesmo partido. O médico chegou a ser levado para o Hospital Lourenço Jorge, mas não resistiu aos ferimentos.
Uma nota assinada pela deputada Fernanda Melchionna, que foi escolhida para falar em nome da família, afirma que Sâmia “está devastada nesse momento terrível de perda e dor, assim como o seu companheiro Glauber Braga, que a acompanha neste momento”. Os parentes de Diego Bomfim prestaram solidariedade com os familiares de todas as vítimas do que chamaram de “crime bárbaro”, agradeceram as mensagens de apoio que receberam e cobraram rigor nas investigações.
“Pelas imagens divulgadas pela imprensa, tudo indica que se trata de uma execução. Exigimos imediata e profunda investigação para descobrir as motivações do crime, assim como a identificação e prisão dos executores. Já pedimos ao ministro da Justiça, Flávio Dino, o acompanhamento do caso pela Polícia Federal e estamos formalizando a solicitação com o ministério”, diz a nota.
Miliciano ganhou condicional em setembro
Documentos obtidos pelo GLOBO revelam que Taillon Barbosa obteve livramento condicional em 25 de setembro deste ano. Segundo o processo, ele mora na Avenida Lúcio Costa, na mesma avenida onde os médicos foram assassinados. Seu apartamento fica a 750 metros do quiosque onde aconteceu o crime.
A decisão do livramento condicional, assinada pelo juiz Cariel Bezerra Patriota, determina que Taillon compareça ao juízo a cada três meses para comprovar suas atividades. Ele precisa voltar para casa às 23h e permanecer durante toda a noite. Também é sua obrigação “porta-se de acordo com os bons costumes”, não se ausentar do estado, não se mudar sem comunicação ao juízo
O que ainda não se sabe
Embora a polícia não descarte a possibilidade de as mortes terem acontecido devido a semelhanças físicas entre Perseu Ribeiro de Almeida, de 33 anos, e um miliciano que frequentava e morava perto do lugar, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos, as investigações seguem em andamento. A polícia federal foi envolvida no andamento das diligências do caso.
Elas darão conta de confirmar as motivações do crime e de descobrir quem são as pessoas envolvidas em ordenar os homicídios. A respeito dos ataques, de acordo com a PM, agentes fizeram buscas na região, mas não conseguiram localizar os suspeitos. O policiamento foi reforçado.