A presença de dor na relação sexual, cujo nome técnico é dispareunia, atinge dois terços das mulheres ao longo da vida. O problema pode ter várias causas e é importante investigá-lo já que a experiência sexual prazerosa impacta positivamente a qualidade de vida da mulher, o bem-estar e a autoestima. Ginecologista com especialização em uroginecologia e sexualidade humana, Lilian Fiorelli diz que vários fatores podem provocar essa dor com a penetração. “Dor é sinônimo de que algo não está funcionando direito. Principalmente em relações sexuais, onde o objetivo é sentir prazer, a presença da dor é um sintoma que sempre deve ser analisado”, afirma.
A especialista explica que as razões variam em cada fase da vida da mulher: “A causa pode estar relacionada desde a problemas ginecológicos mais sérios quanto a situações em que pequenos desequilíbrios na flora vaginal ou hormonal causam a sensação de secura vaginal, ou até mesmo pelo fator psicológico”.
Endometriose
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) estima que a endometriose afete de 10% a 15% das mulheres em fase reprodutiva. Isso quer dizer que cerca de 7 milhões de brasileiras sofrem do problema. A dor na relação sexual é um sintoma comum da endometriose, doença inflamatória que ocorre quando o tecido que reveste o útero, o endométrio, se encontra em lugares onde não deveria crescer, principalmente na região pélvica (no útero, ovário, intestino, reto e bexiga).
Todo mês, os ovários produzem hormônios que estimulam as células do endométrio a se multiplicarem e estarem preparadas para receber um possível embrião. Quando não há gestação, o corpo elimina parte do endométrio na menstruação. Quando o endométrio está localizado em outras regiões do organismo, é como se essas partes “também menstruassem”: o sangramento fica dentro da barriga ocasionando aumento da dor no período menstrual.
Dor na relação sexual pode ser endometriose
Se a endometriose estiver localizada próximo da vagina, como atrás do útero, nos ovários ou for disseminada pela pelve pode ocasionar dor na relação quando o pênis bate no fundo (chamada dispareunia de profundidade).
Vaginismo
O vaginismo é a contração involuntária da musculatura vaginal que impede a penetração. Essa disfunção sexual acomete entre 1% e 6% das mulheres com vida sexual ativa. Pouco conhecida, é comum não só que a mulher receba o diagnóstico errado, já que muitos profissionais desconhecem o problema, como também tenha que se submeter a um rosário de especialistas com tratamentos, inclusive, inadequados.
O principal sintoma é a dor durante a tentativa de penetração – seja de pênis, dedos, no exame ginecológico ou com outros objetos. Na grande maioria dos casos, o problema é encarado como “frescura” e as mulheres vistas como neuróticas. No entanto, o vaginismo tem cura e merece atenção.
Dor e dificuldade de penetração na relação sexual podem ser vaginismo
Lilian Fiorelli explica que a dor é causada porque o assoalho pélvico, em um espasmo muscular, fecha a região em volta da vagina. Essa musculatura, ao contrair, impede a penetração. A tentativa machuca e então dói. Essa contração é feita de maneira involuntária. Motivos fisiológicos ou psicológicos podem gerar esta disfunção. Mulheres que tiveram uma educação muito rígida e religiosa, em que a virgindade é muito valorizada, ou o medo de engravidar podem ocasionar o vaginismo. Traumas e abusos também podem estar relacionados à disfunção sexual. O tratamento, na maioria das vezes, está associado à terapia realizada por uma série de profissionais, muitas vezes em conjunto (ginecologista, fisioterapeuta, sexólogo e psicólogo).
“O importante é não ter vergonha de conversar com o parceiro nem com o médico sobre o assunto. Procure a orientação necessária e faça os tratamentos de acordo com cada causa”, orienta a especialista.
Candidíase
A candidíase em geral está associada ao corrimento branco, às vezes com coceira, e bastante dor na hora da penetração. Esta infecção é causada pelo crescimento excessivo de um tipo de fungo denominado Candida. Esse fungo é normalmente encontrado em pequenas quantidades na vagina, não causando qualquer sintoma. No entanto, certos medicamentos e problemas de saúde podem favorecer a sua proliferação. Embora a candidíase não seja considerada uma DST (doença sexualmente transmissível), ela pode ser transmitida por meio do contato sexual, para as genitálias e a boca.
Falta de lubrificação
A falta de lubrificação acontece, com mais frequência, em mulheres mais velhas ou naquelas que não estão muito a fim daquela relação sexual, sejam por estarem tensas ou qualquer outro fator. “Quando o organismo não produz lubrificação suficiente para preparar a vagina para a relação sexual, a mulher pode sentir muita dor na hora da penetração. Sem a lubrificação, o atrito pode ocasionar microfissuras na mucosa da vagina o que gera a dor. A dor diminui a excitação e a sensação de prazer, o que diminui ainda mais a lubrificação e gera-se um ciclo”, explica Lilian Fiorelli.
Infecção urinária ou cistite
Ardência, incômodo ou dor durante a relação sexual ou mesmo após o ato podem indicar uma cistite, que é uma infecção e/ou inflamação da bexiga, em geral causada por bactéria (infecção urinária). Como a bexiga fica muito próxima à vagina, quando há infecção, o contato contínuo na relação pode piorar o incômodo na hora do ato.