Um novo remédio para obesidade foi aprovado no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no dia 29 de fevereiro de 2016. O Saxenda é um medicamento à base de um hormônio chamado liraglutida, que é produzido naturalmente no organismo pelo trato intestinal e tem a ação de avisar ao cérebro que a comida já chegou ao final do intestino, inibindo a fome.
O endocrinologista João Eduardo Salles, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), explica que todas as pessoas fabricam esse hormônio, mas sua ação termina muito rapidamente, fazendo a fome voltar logo. “O que o remédio faz é imitar a ação do hormônio, mas sem ser degradado rapidamente. Ele fica 24 horas circulando e inibindo a fome”, diz.
Como o Saxenda funciona
Antes da aprovação do Saxenda, existiam apenas outros dois medicamentos para emagrecer no Brasil: o orlistat, mais conhecido como Xenical (nome comercial), e a sibutramina, um dos mais populares. A diferença entre o novo remédio e a sibutramina está na forma como eles agem no organismo. “A sibutramina age via sistema nervoso central, aumentando a serotonina e a noradrenalina, hormônios que desencadeiam o processo de saciedade e levam à perda de peso. O Saxenda também age no sistema nervoso central, mas imitando a ação do hormônio liraglutida e reduzindo a fome”, esclarece.
Qual é o mais eficaz?
O médico explica que há pacientes que não respondem à sibutramina, assim como há pacientes que podem não responder ao Saxenda. Mas, comparando pacientes nos quais esses dois medicamentos funcionam bem, é possível dizer que quem toma Saxenda tem uma potência de perda de peso maior.
Indicações médicas do Saxenda
O novo remédio é indicado para quem tem IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 27 associado a doenças relacionadas à obesidade, ou IMC acima de 30. “Mas é importante ressaltar que, para que o remédio seja necessário, o paciente teria de já ter feito um programa de reeducação alimentar e atividade física sem obter resultados”, diz.
Não é indicado para pacientes não obesos
Para quem tem sobrepeso, mas não é obeso, e acha que o medicamento pode ser uma alternativa mais rápida para perder alguns quilos, seu uso pode ser perigoso. Isso porque, se não há problema de saúde – apenas hábitos alimentares errados -, a tendência é que o paciente retome o padrão de alimentação após fazer uso do medicamento, o que resultaria na recuperação de todo o peso perdido ou até mais.
Por isso, o Saxenda só pode ser usado quando há prescrição e acompanhamento médico, de modo a garantir a devida reeducação alimentar, que será auxiliada pelo controle da fome promovido pelo remédio, além dos cuidados necessários na hora de encerrar seu uso.
“O que o remédio faz é facilitar a mudança, contando para o cérebro que a pessoa já comeu e não precisa comer de novo. E facilita também para quem precisa começar uma atividade física e não consegue por causa do excesso de peso”, diz o especialista.
Efeitos colaterais
O efeito colateral mais comum são as náuseas. Para evitá-las, a dosagem do remédio deve ser aumentada gradativamente. “É obrigatório que o paciente demore quatro semanas para atingir a dose máxima. A aplicação é diária, subcutânea, e começa com uma dose de 0,6 miligramas. A cada semana a dose vai aumentando mais 0,6 miligramas, até chegar à dose máxima, que é 3 miligramas”, explica. A aplicação injetável, segundo o médico, é muito fácil e feita pela própria pessoa.
Outro problema que pode surgir é a alergia à medicação. “Mas não tem como saber antes se o paciente é ou não alérgico, só mesmo após a aplicação. Ele pode apresentar coceira, pruridos e reações locais no local da injeção, mas nada extremamente grave”, diz.
Quem não pode tomar?
Dr. Salles explica também que ainda não está claro se esse novo medicamento tem ligação com a pancreatite. Embora seja algo raro, há uma contraindicação relativa para que pacientes que tenham predisposição à pancreatite não usem o Saxenda. Nesse grupo de pessoas estão as que já tiveram a doença, as alcoólatras, as que têm triglicerídeos muito elevados ou pedra na vesícula.
O remédio também é contraindicado para menores de 18 anos. E, em alguns casos, pode não fazer efeito. “Como é um hormônio, ele precisa de um receptor para funcionar, e a falta desse receptor no cérebro pode fazer com que não funcione. Mas não tem como saber previamente, é preciso testar em cada paciente. Quem tomou por algumas semanas e não teve perda de peso, não deve manter o uso”, explica.
Melhor forma de emagrecer
O médico ressalta que a obesidade é uma doença, não um estilo de vida, que não tem cura, mas tem tratamento. E, para que os resultados apareçam, é fundamental o engajamento do paciente, além de um acompanhamento médico que inclua profissionais como nutricionista e educador físico.
Ele diz que existem vários tratamentos para a obesidade e que é preciso achar um ao qual o paciente responda. “É uma ação de longo prazo. O tempo que cada pessoa vai precisar varia muito, não existe um número mágico. Mas tanto o médico como o paciente precisam entender que naquele momento está havendo uma tentativa de mudanças de hábito e quando isso for algo concreto, com reeducação alimentar estabilizada e exercícios adequados, já se pode pensar em tirar o medicamento”, finaliza.